Imagine se em sua formatura do Ensino Médio, ao discursar, um professor dissesse à sua turma: “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins sugerem, vocês não são especiais.”. Como você se sentiria?

Isso pode não ter acontecido com você, mas aconteceu com uma turma do 3º ano de uma das melhores escolas de Ensino Médio dos EUA. O professor David McCullough Jr repetiu a frase “vocês não são especiais” por 9 vezes, em 13 minutos, durante o seu discurso aos formandos. É possível que algumas pessoas achem isso absurdo. Particularmente, quando li sobre isso na matéria de capa da Revista Época dessa semana, eu achei o máximo!

A fala do professor foi uma tentativa de chamar a atenção dos alunos para o fato de que eles são como todos os outros. Em 26 anos de experiência, ele identificou que cada vez mais os adolescentes têm sido tratados como se fossem o centro do mundo. Keith Campbell, psicólogo norte-americano, afirma: “Muitos pais modernos expressam amor por seus filhos tratando-os como se eles fossem da realeza. Eles precisam entender que seus filhos são especiais para eles, não para o resto do mundo.” (Época, 16/07/12, p. 62).

Muitos adolescentes e jovens, hoje, possuem sua autoestima comprometida. Alguns sofrem com uma baixa autoestima, que muitas vezes se associa a alguns transtornos mentais. Outros, sofrem com algo que costumo chamar “ego inflado”, que traz também uma série de consequências ruins. Parece que a luta contra a baixa autoestima, unida a outros fatores, têm produzido um novo extremo problemático.

Jovens e adolescentes com o “ego inflado” não sabem ouvir “não”, não suportam frustrações, não possuem habilidades suficientes para enfrentar dificuldades e desafios sozinhos. São pessoas que, em maior ou menor grau, não se importam em obedecer as leis, que não possuem habilidades para conviver bem com as pessoas, e que não toleram receber ordens.

Como, então, ajudar os filhos a desenvolverem a autoestima na medida certa? Seguem abaixo algumas dicas:

Desde pequenos, apresentem-lhes os limites. Dê regras às crianças, na medida em que a idade delas permita atender a essas regras.

Ao criar uma regra condicional (do tipo “se… então…”), não abra excessões. Regras servem para ser seguidas, e as crianças não devem aprender que podem manipular a autoridade e burlar as regras. O mundo fora de casa não irá abrir excessões para um adolescente/jovem mimado.

Elogie com moderação. Elogio é bom, e deve ser dado, mas no momento certo, diante de um comportamento adequado. Elogiar tudo que a criança faz não é necessário e nem bom. Elogie aquilo que ela faz bem e que exige dela certo esforço. Tarefas cotidianas, como arrumar a cama, tomar banho e amarrar o cadarço, por exemplo, não devem ser elogiadas todos os dias. Elogie apenas durante o tempo em que a criança ainda está aprendendo a fazer essas coisas sozinha. Favores também não são motivo de elogios contantes. Diga apenas “obrigada!”.

Apresente aos filhos a realidade do mundo. Ao invés de tratar a criança como se o universo girasse ao redor dela, apresente a ela o que de fato é o mundo. Ensine aos pequenos o que é sentir fome e o que é ter necessidades. Ensine-o a dividir, a ajudar. Dê tarefas e responsabilidades. As crianças precisam entender que o mundo não é somente o conforto da sua casa e as coisas legais dos shoppings. Precisam entender que dinheiro não nasce em pé de arvore, e que existem necessidades e prioridades maiores que seus caprichos pessoais.

Aos maiores, dê mesada com critério. Defina um valor para a mesada de modo que essa seja uma oportunidade para o adolescente aprender a se organizar e administrar com sabedoria seus recursos.

Seja amigo dos seus filhos. Amigos são sinceros, dizem a verdade, estão dispostos a nos ouvir e ajudar. Filhos precisam ouvir a verdade, tanto quando vão bem em algo, como quando vão mal. Precisam saber que podem ser ouvidos, e que possuem pais dispostos a lhe ajudarem naquilo que são incapazes de realizar sozinhos.

Permita que eles experimentem as consequências de seus atos. Essa talvez seja a dica mais difícil de seguir. Muitos pais estão atentos às menores necessidades ou dificuldades dos filhos, e acabam não permitindo que eles experimentem as consequências de seus atos. Se o filho tirou nota baixa, o pai não tem que ir à escola conversar com o professor. É o filho que tem que estudar mais. Se ele gastou toda a mesada e não vai poder comprar algo que era importante, com o qual deveria ter se preocupado primariamente, não é o pai que deve realizar a compra. Por que não deixá-lo experimentar o que acontece quando se administra mal o dinheiro?! (É claro que se algo for realmente importante e necessário, o pai pode ajudar, mas de forma que o filho continue sendo responsável pela compra. O pai pode descontar o valor na próxima mesada, por exemplo, mas com cuidado para não ensinar ao filho que fazer empréstimos é uma boa solução.).