Acredito que quase todo pai já precisou lidar com algum medo infantil. E é comum que as crianças sintam alguns medos. Contudo, o comportamento que elas desenvolvem em relação aos medos é que requer atenção.

Tenho recebido em meu consultório, nos últimos meses, crianças com diferentes medos, todas com sintomas de ansiedade. Elas se sentem preocupadas, inclusive com assuntos com os quais não precisariam se preocupar enquanto crianças. E, algo que percebo que se repete entre elas é o comportamento de esquiva (ou evitação). Esse comportamento foi verificado em uma pesquisa citada no site da Veja. O título da matéria na Veja é “Crianças que não enfrentam seus medos têm risco maior de ansiedade” e o da pesquisa é “Development of child- and parent-report measures of behavioral avoidance related to childhood anxiety disorders“.

De acordo com a pesquisa, crianças que costumam emitir comportamentos de esquiva desenvolvem mais ansiedade em relação a seus medos que aquelas que enfrentam as situações que lhes causam medo. É exatamente o que encontramos no consultório.

Na prática, o que ocorre é que crianças que enfrentam os medos têm a oportunidade de descobrir formas de desconstruir esses medos, e até mesmo de descobrir que são capazes de lidar com situações difíceis. Através da experimentação, da exposição às situações, elas têm a oportunidade de desenvolver habilidades para lidar com essas situações. Já as que fogem ou evitam o contato com situações que julgam ameaçadoras, perdem essa oportunidade, e acabam não desenvolvendo habilidades importantes para lidar com medos e ansiedades.

Aqui eu gostaria de chamar a atenção dos pais. Muitas vezes é na relação com os pais que as crianças desenvolvem suas inseguranças. São os pais que transmitem alguns medos, assim como protegem a criança das oportunidades que teria de vencer seus medos. Não digo que não é permitido acolher uma criança que vai para o quarto dos pais à noite porque está com medo. Mas também não é saudável alimentar na crianças a ideia de que a menos que ela durma com os pais ela não está segura. As crianças precisam ter contato com os medos, e experimentar enfrentá-los para descobrir que são capazes de resistir a eles.

Dar atenção a esse tipo de situação infantil é importante. Alguns pais podem pensar que isso passa com o tempo. Contudo, nem sempre é assim, e encontramos com frequência adultos, que em sua infância não adquiriram habilidades importantes, sofrendo de transtornos de ansiedade. “De acordo com os pesquisadores, terapias cognitivas e comportamentais são capazes de ajudar crianças que evitam situações das quais sentem medo […] Por isso, concluiu a equipe, essa terapia pode ajudar a prevenir a ansiedade em crianças que apresentam esse comportamento.” Veja.