Toc toc toc (alguém bate na porta)
– Seu pai está aí?
– Espera um pouco!
(segundos depois)
– Ele mandou dizer que não está.

Historinhas como essa podem parecer engraçadas. Elas acontecem todos os dias em diferentes situações, com diferentes famílias. Apesar de ter um pouco de graça, elas denunciam uma realidade sobre a qual queremos refletir aqui – a educação pelo exemplo.

O diálogo é muito importante na educação das crianças. Já falamos sobre ele há alguns dias. Mas, de que vale ensinar algo verbalmente aos filhos e na prática ensinar o oposto? É aquela velha história “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Certa vez, um pai me procurou cheio de queixas sobre a filha. Acompanhei a criança durante algum tempo e depois voltei a conversar com o pai. Falei com ele sobre alguns comportamentos dela que precisavam ser trabalhados em casa para que aquelas queixas não existissem mais. O pai me respondeu: “mas essas coisas que você está dizendo eu também faço. Ela é igualzinha a mim”.

O pai tinha queixas sobre comportamentos da filha que eram na verdade uma espécie de “cópia” de seus próprios comportamentos. Disse a ele que, se ele queria mudar aqueles comportamentos na filha, era importante que ele trabalhasse esses comportamentos em si mesmo. Não adiantava brigar com a criança, reclamar dela, se tudo o que ela estava fazendo era seguir seu exemplo, afinal de contas, ele era seu pai, aquele a quem ela observava e imitava.

É no mínimo injusto cobrar das crianças que elas ajam diferentemente dos modelos que lhe são dados. Mas pais são seres humanos imperfeitos e têm defeitos e maus hábitos que gostariam que seus filhos não tivessem. O que fazer então?

Primeiro, é importante reconhecer que como modelos precisamos cuidar mais com nossos comportamentos e buscar modificar aqueles que não desejamos deixar de herança às crianças.

Alguns comportamentos nos acompanham há muito tempo, e talvez seja muito difícil mudá-los de uma hora para outra em prol da educação das crianças. Nesses casos em que a mudança é um pouco lenta, é importante conversar com a criança e mostrar a ela que aquele comportamento não é ideal, quais as consequências negativas de se comportar daquela forma e quão difícil é aprender a comportar-se diferente depois que se adquire aquele hábito. Quando os pais reconhecem seus erros diante das crianças, ao contrário do que alguns pensam, eles não estão perdendo a autoridade sobre elas. Na verdade estão ensinando uma grande lição de humildade e reconhecimento de suas próprias falhas.

Além de ensinar comportamentos, atitudes e valores indesejáveis através do exemplo, outro perigo de não cuidar com o exemplo que é dado às crianças está na invalidação das regras e acordos. Se o pai faz um acordo ou estabelece uma regra e ele mesmo viola esse acordo ou regra, pelo seu exemplo ele está ensinando aos filhos que seus acordos e suas regras não precisam ser seguidos. Certa vez, um pai me disse: “Eu não sei o que fazer. Eu falei para ‘fulano’ (seu filho) guardar o tênis no quarto e ele me questionou sobre meu sapato que também estava fora do lugar”.

Um sapato fora do lugar pode parecer coisa boba. Contudo, se pensarmos que da mesma forma que, pelo exemplo, uma criança aprende a desrespeitar uma regra como “guarde o sapato no quarto”, ela também aprende a agir com desonestidade, não respeitar o direito dos outros, violar normas do convívio social, etc., os cuidados com o que ensinamos como modelos devem tornar-se uma prioridade na educação.