Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Psicologia, da Universidade de Queensland, Austrália, e publicado na revista Social Influence há poucos dias, apresentou dados interessantes acerca da influência das interações realizadas no Facebook sobre sentimento de pertença dos usuários desta rede social. Enquanto lia o artigo, pensei em como a internet apenas potencializa e permite ser mais intenso e constante aquilo que já é próprio do mundo “off-line”.

Já no primeiro parágrafo do artigo, algo muito simples e óbvio me chamou a atenção. Lá está escrito assim: “A closer look at the literature reveals that the specific activities in which Facebook users engage determine whether they experience predominantly positive or negative outcomes.” Em português diríamos que um olhar mais atento à literatura revela que as atividades específicas em que os usuários do Facebook se engajam determina se eles experimentam resultados predominantemente positivos ou negativos.

Mas, por que isso haveria de me chamar a atenção? Tenho lido outros relatos de pesquisa e artigos científicos publicados acerca de comportamento humano e redes sociais da internet. Em todos estes artigos percebo que a internet é uma excelente ferramenta para tornar mais intenso e comum processos naturais da mente, do comportamento e das relações humanas. O fato de que os resultados que obtemos em nossas interações no Facebook são predominantemente positivos ou negativos em função das atividades em que nos engajamos, ou seja, da forma como agimos na rede social, é uma informação importantíssima do ponto de vista da análise do comportamento. Uma informação, de certa forma, óbvia, importante e pouco compreendida.

Óbvia, porque não há novidade alguma nessa informação. Podemos observar sua veracidade na prática, momento após momento, ao longo do dia. Importante, porque sua compreensão nos auxilia a resolver diversos problemas que possuímos nas mais diferentes áreas de nossa vida. Pouco compreendida porque, talvez, seja uma das afirmações que mais negamos com a postura que adotamos em nossa vida.

Não é apenas no facebook que nossos resultados são predominantemente positivos ou negativos em função da forma como nos comportamentos. É assim em nosso relacionamento familiar, por exemplo. Se você investe tempo para estar com a família, sua experiência familiar é mais positiva do que se você não investe este tempo. Ainda que seu tempo seja curto, você não precisa ser um estranho dentro do seu lar. Você pode ter o sentimento de pertencer ao grupo familiar, e pode ter alegria nas relações familiares. E isto será fruto da postura que você adotou.

Alguns pais de adolescentes me procuram preocupados com seus filhos, porque estes estão “rebeldes”. Com alguns minutos de conversa, é possível identificar, em muitos casos, que a experiência negativa que estão experimentando com seus filhos é o resultado das escolhas de engajamento que fizeram como pais. Os pais se queixam, por exemplo, que os filhos não querem ficar em casa, só querem saber de sair com os amigos, e quando estão em casa ficam apenas no computador ou no smartphone, e não dão atenção aos pais. Contudo, se esquecem que durante um bom tempo, eram eles que estavam cansados demais para brincar, ocupados demais para ver um desenho que a criança alegre vinha mostrar, aborrecido demais para rir dos gracejos infantis, preocupado demais para ouvir as dúvidas e preocupações da infância, enfim… ausentes demais para se relacionarem.

Não podemos semear trigo para colher milho. Os processos naturais da vida não permitem isso. E ainda que muita gente pense compreender isso, no fundo, com suas ações, demonstram o contrário. Reclamamos de nossa condição financeira, mas muitas vezes não nos engajamos em atividades que possam favorecer uma mudança positiva. Estamos insatisfeitos com nosso relacionamento amoroso, mas a forma como agimos não colabora para a melhora da relação. Gostaríamos de ter mais oportunidades nessa e naquela áreas, mas agimos de modo a fechar as portas para as oportunidades com atitudes negativas. Queremos emagrecer, mas optamos por comer aquilo que contraria este objetivo. Ou seja, temos experiências ruins, porque nos engajamos em atitudes e comportamentos ruins ou não funcionais.

É bem verdade que muita coisa boa e ruim não está completamente sobre o nosso controle. E, talvez, você tenha pensado em algumas coisas enquanto lia as palavras acima. É bem verdade que se você nasce com uma doença hereditária crônica, esta doença não se desenvolveu porque você se engajou na ação errada. Contudo, esta doença pode ter um efeito menos danoso sobre você dependendo da forma como você se engaja na relação com ela. É assim que muita gente que possui diagnósticos de doenças para as quais a medicina não oferece cura tem qualidade de vida.

Você pode ser tentado a avaliar suas questões pessoais como sendo um caso de excessão, que não cabe dentro do que foi escrito em cada parágrafo aqui. Mesmo assim, eu lhe proponho um teste, e, quem sabe, em algum tempo, uma boa e nova experiência.

Referência:
Tobin, S.J. et al (2014). Threats to belonging on Facebook: lurking and ostracism. Social Influence, Acessado em 12 de Maio de 2014, em: http://dx.doi.org/10.1080/15534510.2014.893924