Sempre tive medo de parir. (Na verdade, eu tive medo de muita coisa durante boa parte de minha vida, assim como a ansiedade e o stress já foram tão graves a ponto de eu adoecer fisicamente). Eu achava que não daria conta de enfrentar um parto normal e tão pouco me sentia satisfeita com a ideia de passar por uma cirurgia (a cesárea).

Mas medo e sonho são duas coisas que, apesar de frequentemente nos acompanharem, não combinam. Realizar um sonho, muitas vezes, requer o enfrentamento de um medo. E eu tinha o sonho de ser mãe.

Eu trabalho ajudando mulheres a superarem seus medos, a vencerem a ansiedade, a empoderarem-se verdadeiramente. Por isso, compartilharei abaixo com você como o parto foi uma experiência transformadora para mim.

Após o meu relato de parto você terá a oportunidade de ler também o relato na visão do meu esposo, o Coach de Inteligência Emocional Marcos Correia. Acredito que homens e mulheres podem viver experiências incríveis de superação e transformação, cada um ao seu próprio modo. Espero que goste do que compartilharemos a seguir e que nossa experiência possa inspirar você a viver experiências incríveis também!


Relato de Parto – Karyne

Em janeiro de 2016 tive meu primeiro filho – o Ben. Foi uma experiência única e inesquecível. Li tudo o que pude sobre parir e optei pelo parto natural humanizado, sem analgesia e sem intervenções médicas desnecessárias. Mas para que esse parto fosse possível, precisei viajar 200km até o hospital. Contratei uma doula, que me deu todo o suporte para que eu estivesse o mais preparada possível para viver essa experiência.

No dia 18 de janeiro de 2016, às 22:40h, quando finalmente eu consegui encontrar uma posição na cama para dormir, a bolsa estourou. Acordei o marido. Avisei a doula. Avisei minha mãe (que iria me acompanhar na viagem para a maternidade). Finalizei as últimas coisas que precisava e meia noite em ponto saímos do portão de nossa casa.

Chegamos à maternidade 2h da manhã. O médico examinou. 6cm de dilatação. Ele nos disse que o bebê nasceria entre 6h e 7h da manhã. Fui encaminhada a uma sala de parto muito acolhedora. Usei banheira, bola de pilates e chuveiro. Meu esposo colocou para tocar minha playlist de músicas selecionadas para aquele momento. Havia pouca luz, nenhum tipo de conversa paralela. O clima era perfeito para a chegada do nosso filho.

As dores foram se intensificando e, quando chegamos ao último estágio do trabalho de parto, tive o pensamento de que não iria dar conta. A dor era tanta, como nunca havia sentido, e a sensação é de que eu não sobreviveria ao parto. Cheguei a dizer que não iria conseguir. Meu esposo falou em meu ouvido para eu falar o contrário. Falei!

Às 6:40h, do dia 19 de janeiro de 2016, nasceu o Ben, de um emocionante e intenso parto natural na água, colocando à prova meus maiores medos e fazendo com que nascesse ali, também, uma nova mulher.

Há quem pense que foi loucura viajar 200km para Florianópolis (SC), em Janeiro, em trabalho de parto (quando o trânsito até lá se torna um verdadeiro caos), optar pelo parto natural, etc… Mas acho que, aqui em casa, nós gostamos de fortes emoções. 3 anos depois, engravidamos novamente, e novamente teríamos um bebê em Janeiro. Dessa vez, com um pouco mais de emoção, para colocar a prova tudo que meu esposo e eu conhecemos sobre Inteligência Emocional.

Era dia 01/01/19. Saímos para almoçar com a família. Por volta de 13h, ainda no restaurante, comecei a sentir as contrações. A princípio, elas vinham a cada 10 ou 11 minutos. Eram muito semelhantes às contrações de treinamento que eu já vinha sentindo há, pelo menos, dois meses.

Nosso plano era ir para o mesmo hospital, em Florianópolis (SC). Precisávamos sair de casa na hora certa. Ir antes poderia gerar alguns transtornos para a rotina da família. E sair depois do horário ideal seria colocar em risco o nascimento de nossa filha. Eu não podia ter dúvidas quanto ao momento de partirmos.

Então, observei atentamente aquelas contrações. Entrei em contato com minha doula para mante-la informada da minha situação. Com o passar das horas, o intervalo começou a reduzir. Agora estava a cada 8 ou 7 minutos. Os intervalos eram bem irregulares em alguns momentos (chegava a 12 minutos), mas eu tive a certeza de que aquilo não era mais um treino. O trabalho de parto havia começado!

As malas já estavam prontas e na porta do quarto. Havia uma pequena lista de coisas que precisavam ser pegas no momento de sairmos. Checamos a lista. Oramos com a família. Partimos (meu esposo e eu) para o hospital.

Verão, feriadão … o trânsito de Joinville para Florianópolis pode demorar muitas horas. Um casal de amigos que havia feito o mesmo percurso dias antes gastou 7h de viagem. Não tínhamos esse tempo. Mas eu tinha fé! Havia conversado com Deus sobre nosso plano de parto e havia pedido a Ele que escolhesse o melhor momento para o trabalho de parto iniciar.

Saímos de casa por volta de 16h. Chegamos no hospital às 18:30h. Ao longo do caminho, as contrações ficavam mais fortes e frequentes. Eu mantinha contato constante com a minha doula. Em determinado momento, a instrução dela foi: “não faça força”. Obedeci!
Quando chegamos ao hospital, a Cris (Doula) e a Carol (fotógrafa) já estavam lá.

No exame médico – 6 cm de dilatação (igual a primeira vez). Mas as contrações eram muito frequentes e fortes. Tivemos a felicidade de sermos atendidos pelo mesmo médico que assistiu ao parto do Ben 3 anos antes. O plantão dele terminava às 20h. Perguntei a previsão de horário para o nascimento da Rebeca. (No nascimento do Ben ele disse que seria entre 6h e 7h da manhã, e Ben nasceu 6:40). Ele me respondeu que não tinha como precisar, mas que poderia ser ainda no plantão dele.

Fomos encaminhados para a internação. Mas Rebeca não queria esperar. Enquanto providenciavam o quarto e meu esposo assinava a papelada, comecei a sentir a última fase do trabalho de parto. Ela é inconfundível! Avisei à Cris.

De repente, eu estava sentada numa cadeira de rodas. O elevador do hospital resolveu não funcionar. Então, fomos para uma suíte no térreo. Mas lá, não seria possível, a mim, acompanhar os primeiros cuidados médicos da Rebeca. Então, a solução foi subir 4 lances de escadas.

Rebeca quase nasceu nas escadas. Marido, doula, fotógrafa, médico, todos estavam atentos a essa possibilidade. As contrações vinham e eu parava por um instante de subir. Quando passavam, continuávamos o percurso.

Entrei numa sala para trocar a roupa. Tudo acontecia com muita rapidez. Enquanto a enfermeira rapidamente tirava o meu vestido a bolsa rompeu. Enfiei os braços no roupão e, rapidamente, atravessei mais uma porta. Outra contração. O médico disse ao meu marido que sentasse na poltrona e imediatamente colocaram um “banco de cócoras”, junto dele, para mim. Sentei. Apoiei no meu esposo. Outra contração. 3 gritos e Rebeca nasceu, às 19:18h.

Nasceu chorando forte. Veio direto para o meu braço, onde ficou por muitos minutos. Mamou. Ficou com o papai. Só depois, foi pesada e medida, ali, diante dos nossos olhos.

Foi um fantástico parto a jato. Uma incrível aventura. Sem analgesia e, dessa vez, sem mesmo tempo de encher a banheira do hospital. (Sim, a banheira é um tremendo analgésico. Agora que tenho as duas experiências, posso confirmar!)
Foi um parto intenso, doloroso, rápido, coberto de fé, da certeza de que tudo daria certo!

Rebeca nasceu com 48,5cm, 2,965kg, em Florianópolis -SC, no ILHA HOSPITAL E MATERNIDADE, assistida pelo Dr Diego Di Marco, Cris Doula e equipe do Ilha.

Minha gratidão a Deus, que preparou tudo perfeitamente. Ao meu marido, por todo apoio. À minha família, por ficarem com o Ben nesse momento tão importante e delicado para ele. À Cris, pela assistência maravilhosa. Ao Dr Diego que mais uma vez sentou-se no chão para assistir ao nascimento de um dos meus filhos. (Isso pode não fazer sentido para algumas pessoas, mas é muito significativo para mim). E à Carol por registrar esse momento especial!


Relato de parto – Marcos

Dia 01/01/2019. Eu achava a data muito boa, quando Karyne informou que havia um tempo estava com contrações em tempos regulares eu comecei a torcer para que fosse naquele mesmo dia.
Perguntei se ela havia comunicado à doula e ela falou que só comunicaria quando tivesse informações precisas. Minha resposta? Fale para ela que você está tendo contrações de 12 em 12 minutos, em média. Se isso não for informação precisa eu não sei o que mais poderá ser.
A Cris fez uma série de perguntas para ela e, em alguns minutos a ordem: Cris falou para irmos para Florianópolis.
Exatamente como na primeira vez que fomos, por ocasião do nascimento do Ben, o inicio da viagem foi bastante tranquilo. Fomos conversando algumas amenidades e eu perguntava sempre: como está? Qual tem sido o tempo entre uma contração e outra? Você está bem?
Não demorou muito para eu perceber que o trabalho de parto estava em curso. Lembro bem, por causa do primeiro parto, de como Karyne se transformava durante as contrações. As caras que ela fazia. Definitivamente, Rebeca estava a caminho.
Desta vez, havia dois detalhes que me causavam preocupação, um mais contornável, o outro evitei até pensar muito, porque me causaria verdadeiro pavor.
As estradas de Santa Catarina ficam intransitáveis na época de final de ano. Moramos aqui tempo suficiente para saber que, se há uma péssima ideia, esta é viajar de carro no período entre o final de dezembro e inicio de janeiro. Um trajeto que fazemos em média em 2 horas, havia sido feito por um amigo nosso em 7 horas. Qualquer engarrafamento que tivesse pela frente poderia significar horas e horas de atraso.
O trânsito fluía bem, em alguns locais com um fluxo mais intenso, o que nos fazia andar um pouco mais lentamente, mas, nada que nos parasse totalmente.
Cada vez que eu olhava para Karyne e via que estava iniciando uma nova contração, mais apreensivo eu ficava. Especialmente quando ela falava: Essa foi mais forte.
Logo que o Ben nasceu, houve um pequeno período de tensão. Quando ele foi ejetado de dentro da barriga, saiu completamente mole, parecia um bonequinho de borracha. Eu nunca tinha presenciado um parto, não sabia se aquilo era anormal, mas, a expressão facial do médico não foi das melhores. Ele rapidamente pegou o Ben e levou para um canto da sala onde eu não conseguia ver o que acontecia, mas, eu estava atento para um detalhe fundamental. O Ben não havia chorado.
Não é preciso ter experiência alguma com partos para saber que um bebe não chorar depois de nascer não é um bom sinal. Eu estava dando apoio a Karyne, que estava muito debilitada ainda, e com os ouvidos atentos a qualquer sinal de choro de recém-nascido. Não sei quanto tempo durou o procedimento que fizeram com ele, só sei que foi um tempo de angústia para mim, até que, finalmente, eu escuto aquele grito desesperado vindo de um pulmão que estava sendo usado efetivamente pela primeira vez. Alívio.
Meu pensamento era: Rebeca não pode nascer aqui na estrada. Se ela não chorar, ao nascer, eu não sei o que terei que fazer. Como eu disse, esse pensamento vinha em minha mente, e eu me afastava dele, porque focar nele me deixaria extremamente angustiado.
Já bem próximo de Florianópolis, um pequeno engarrafamento. Contrações mais fortes e menos espaçadas.
Finalmente, chegamos ao hospital. Assinei uma papelada gigantesca, fui até o carro buscar um suco e ouço: Marquinhos, vem logo que está nascendo.
Eu voltei espantado, mas era real, o trabalho de parto já estava na fase final.
Deveríamos subir para a sala de parto, o elevador travou, não abria a porta. Começamos a subir as escadas, Karyne debilitada, tinha que parar por causa das contrações. Eu pensava se seria seguro leva-la nos braços, eram quatro lances de escadas, o médico e a Doula diziam que seria rápido, e eu não fazia ideia de como seria mesmo.
O doutor pediu para eu colocar uma roupa especial para entrar na sala de cirurgia, embora a ideia inicial tenha sido irmos para a sala de parto, a sala de cirurgia foi onde deu tempo de chegar.
Quando comecei a tirar a camisa o doutor Diego falou: Pode colocar por cima mesmo. Se eu não tivesse ouvido ele não teria visto o nascimento da Rebeca.
Coloquei apressadamente a roupa por cima da que estava vestido e, quando cheguei na sala de cirurgia, Karyne gritava, a Cris dava aquele suporte emocional e o Dr Diego estava deitado no chão. Sentei na cadeira, Karyne se apoiou em mim e o doutor falou: Ela é bem cabeludinha. Ou seja, quando eu entrei na sala, a Rebeca já estava parcialmente fora da barriga.
Quando ela desceu já foi gritando com toda a força que seus pulmõezinhos podiam (tenho o som gravado em áudio). O médico a entregou para Karyne. Como é gostoso ver a chegada da bebezinha no colo da mamãe. Do local onde fiquei, nos dois casos, tenho uma visão privilegiada da cena.
Karyne precisava ser examinada, então, a Rebeca foi deixada comigo. Chorava e chorava em meus braços e eu só olhava e sentia a alegria de ver aquela pequena criança que acabara de chegar ao mundo. Sensação indescritível.
Fico espantado em saber quão sincronizado foram todos esses eventos. Meus sogros foram visitar a neta, no dia seguinte ao seu nascimento, foram 5 horas de viagem para ir, e 7 para voltar.
18:34 eu enviei mensagem para os sogros avisando que havíamos chegado ao hospital. 19:33 eu enviei o áudio da Rebeca chorando, para eles.
Ou seja, qualquer atraso seria fatal. Mas, Deus cuidou de tudo. Nos fez sair na hora certa. Pegarmos trânsito favorável e chegarmos com tempo hábil. Por isso, nossa gratidão a Ele e nosso compromisso de apresentá-lo à Rebeca para que ela o sirva por toda sua vida.
Agora, a família Lira Correia está completa.