O luto é um momento caracterizado pela perda de algo ou alguém significativo. Não necessariamente relacionado a eventos de morte. Um momento de luto pode ser vivido, por exemplo, relacionado ao envelhecimento (perda da percepção de juventude), aposentadoria, mudança de cidade, de trabalho, término de um relacionamento amoroso ou de amizade. 

Dois importantes teóricos estudaram e estruturaram o luto, bem como o caracterizaram através de fases: John Bowlby (1907-1990), psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, notável por seu interesse no desenvolvimento infantil e por seu trabalho pioneiro na teoria do apego; e Elizabeth Kubler-Ross (1926-2004), médica psiquiatra suíça que dedicou boa parte de sua carreira e estudos a temas relacionados à morte (especialmente ao estudo e aplicação de cuidados paliativos, ou seja, cuidados concedidos a pacientes terminais para minimizar o sofrimento até o momento da morte).

Bowlby é o criador da teoria do apego. Nela ele propõe que o vínculo entre a criança e sua mãe – o apego – é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. Segundo sua teoria, o luto vivido por um adulto ou adolescente é análogo ao sentimento de uma criança na ausência materna. A proximidade das relações humanas é vital para a sobrevivência biológica e psíquica de qualquer ser humano. Essa é a ideia central da teoria do apego.

Para Bowlby, o luto divide-se em 4 fases, são elas: 

1 – Desorientação, Negação e Isolamento – Sensação de desespero por não saber o que fazer diante da realidade indesejada. Negar o fato ou se isolar são estratégias de defesa comuns nessa fase.

2 – Anseio/Busca da figura perdida – Negação da realidade através da busca pela figura perdida. Pensamentos como: Ele(a) deve ter viajado. Ele(a) vai voltar mais tarde. Talvez seja só uma brincadeira, uma hora ele(a) vai aparecer e dizer que tudo não passava de uma brincadeira.

3 – Dor profunda e desprezo – Fase em que aceita-se o fato e sente-se uma dor profunda pela sensação de vazio deixado. A dor causada nessa fase costuma gerar reações de apatia e depressão. 

4 – Reorganização/Re-elaboração – Ocorre com o passar do tempo. Não há uma quantidade de tempo específica. A vida se reorganiza e acostuma-se com a nova realidade. Novos projetos e objetivos tornam novamente a vida vibrante e alegre.

Kubler-Ross organiza o período de luto em 5 fases, sendo elas: 

1 – Negação – Nessa fase o fato da perda é negado veementemente. Pode durar meses e até anos. Pessoas chegam a manter quartos intactos, sob a perspectiva de que o dono daquele quarto, pessoa falecida, retornará a qualquer momento para usá-lo. 

2 – Raiva – Sentimento de raiva e dor. Pode ser sentida inclusive pela pessoa que morreu. O indivíduo enlutado busca culpar Deus, a situação, o morto, e em alguns casos até a si mesmo.

3 – Negociação/Barganha – Depois de perceber que a raiva e o ressentimento não proveram alívio prático a estratégia de enfrentamento assume a forma de negociação. Nessa fase o enlutado tenta buscar conforto na idéia de que algo ainda pode ser feito para mudar a situação.

4 – Depressão – Uma vez compreendida a inevitabilidade da realidade, o indivíduo sente uma dor profunda pela perda. 

5 – Aceitação – O passar do tempo faz com que a dor da perda seja amenizada e com que a assimilação da nova realidade de vida seja mais aceitável. O indivíduo habitua-se à vida com a ausência daquele que se foi e aprende a reestruturar-se social e psicologicamente.

Compreender que o luto possui fases (que não necessariamente seguirão sempre a ordem listada acima) nos ajuda a compreendermos melhor aquilo que estamos experimentando durante a experiência do luto. E tudo o que conhecemos nos causa menos estranhamento e nos possibilita uma melhor adaptação.

Além do sofrimento produzido pela perda em si, o período do luto também envolve outros aspectos delicados que eu comento melhor neste vídeo: