Desde pequenos, até boa parte de nossa juventude, passamos uma quantidade considerável do nosso tempo na escola. É lá que aprendemos uma série de coisas, como as disciplinas que a escola se propõe a ensinar, relacionar-se com pessoas da mesma faixa etária, descobrimos que o mundo não gira ao nosso redor, que precisamos trabalhar em grupo, e que dentro dos grupos nem todos trabalham de forma semelhante, etc… É também na escola que muitas vezes recebemos rótulos que levaremos por muito tempo, senão por toda a vida!
Sabe aquele menino bagunceiro? Desde pequeno ele era alvo das reclamações dos professores, na sala de aula e na reunião de pais e mestres. E ele cresceu ouvindo que era bagunceiro, e acreditando que não havia outra possibilidade para ele, além de ser bagunceiro. Essa é apenas uma caricatura de uma série de crianças que ao longo de suas vidas são enviadas, pela escola, aos psicólogos com “diagnósticos” de Déficit de Atenção, Hiperatividade, Dificuldade de Aprendizado, Autismo, etc.
Não há problema algum em a escola recorrer à psicologia para auxiliar suas crianças, e identificar o que está acontecendo com elas. O problema está em como isso é feito e por quê é feito. Durante o tempo em que estagiei numa creche e também no Núcleo de Psicologia Aplicada da UFES atendendo crianças, pude perceber que muitas vezes a escola não economiza em rotular seus alunos. Há educadores para os quais todo e qualquer comportamento indesejado diz respeito a um transtorno psicológico. Educadores que não procuram identificar as demandas de seus alunos individualmente para descobrir o que se passa com estes pequenos.
O interessante é que, muitas vezes, quando a criança chegava até nós, ficava muito claro que não havia transtorno algum, e aí era necessário identificar o que fazia com que aquelas crianças se comportassem daquela forma, e trabalhar paralelamente com pais e professores o “diagnóstico” feito previamente pelos educadores.
Certa vez um amigo de minha família me procurou para conversar, pois a escola de seu filho havia solicitado que o mesmo fosse levado ao neuropediatra. O motivo é que a crianças de aproximadamente 7 anos não ía bem nas aulas de português. Conversando comigo, o pai não entendia o pedido da escola, já que conhecia bem seu filho, e sabia que ele era muito esperto, conversava muito bem e aprendia as coisas rapidamente. A escola havia dito ao pai que provavelmente a criança fosse autista. Depois de algumas semanas, o pai me contou que levou o filho ao médico, que confirmou o que ele já sabia: seu filho era esperto, conversava muito bem e aprendia as coisas rapidamente. A criança não tinha nenhum transtorno, apenas não tinha interesse algum pela aula de português, e nessa aula costumava conversar e brincar, o que prejudicava seu desempenho escolar. Pense na angústia desnecessária vivida por esse pai!
Não estou dizendo que as escolas sempre fazem maus encaminhamentos ou encaminhamentos desnecessários aos profissionais psicólogos. Muitos encaminhamentos são extremamente sérios e feitos no tempo certo podem auxiliar bastante a vida dos alunos. A questão aqui levantada é que diagnósticos podem se transformar em rótulos, e isso é muito sério. Esse pai estava desnorteado com a possibilidade de seu filho ser autista, simplesmente porque a escola foi precipitada em suas palavras e ações. Educadores precisam ter sensibilidade para perceber o que acontece em suas salas de aula. É certo que somos falhos, e cometemos erros, e podemos julgar mal algumas situações, mas dizer que alguém “É” algo, é sempre delicado, e deve ser evitado ao máximo. A escola pode encaminhar a criança a profissionais competentes, com o intuito de uma avaliação ou um entendimento do comportamento de tal criança. Quando a escola e os profissionais que atendem às crianças se comunicam bem, todos saem ganhando!
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