Princesas. Elas estão por todas as partes: nas prateleiras das locadoras, nas roupas, nos materiais escolares, nos jogos … e, por que não, na mente de muitas meninas e mulheres.
Lembro-me que em minha infância haviam muitas princesas, e eu conheci a história de várias delas. Definitivamente um mundo mágico, e igualmente frágil e ilusório. Atualmente, ser princesa se tornou uma febre. Pode ser que mulheres da minha geração, que, assim como eu, viveram momentos mágicos ao deliciar-se em livros e desenhos animados de princesas, tenham dividido um pouco desse universo com suas meninas, realizando seus sonhos de infância em suas pequenas crianças. Bom… a despeito da influência que a própria relação dessas mães com o universo dos contos de fadas possa ter sobre suas filhas, o fato é que, hoje, há um investimento pesado em algo que podemos chamar de “Cultura Princesa”. Uma overdose de mulheres sensíveis à espera de um prícipe.
Recentemente uma amiga me disse que sua filha de dois anos de idade só quer usar vestidos, porque princesas usam vestido. Pode parecer engraçado, e até seria, se esse fosse o único efeito que este mundo mágico exerce sobre as mentes infantis.
Devido à seriedade desse assunto, a Drª Jennifer Hartstein dedicou-se a escrever um livro para ajudar pais e mães a salvarem suas filhas das armadilhas do mundo encantado. O nome do livro é “Princess Recovery: A How-To Guide to Raising Strong, Empowered Girls Who Can Create Their Own Happily Ever Afters” (em português seria algo como “Recuperação da Princesa: um guia de como criar garotas fortes e poderosas, que podem fazer seu próprio final feliz”). Nele, Drª Jen orienta aos pais alguns cuidados e atitudes que devem tomar para ajudar suas meninas, ao passo em que confrota os “sintomas de princesas” (como “aparência é tudo” e “Resgate-me”) com os “valores de heroína” (como “trabalho duro” e “definir expectativas altas, mas realistas”).
Algumas mensagens transmitidas pela “Cultura Princesa”, e que dificultam o desenvolvimento de mulheres seguras:
- Aparência é tudo – não se faz conto de fadas com princesa feia. A “feiura” é reservada às bruxas.
- Roupas, acessórios, e coisas materiais são essenciais – ainda que no início da trama a moça que se tornará princesa seja pobre e use um vestido remendado, o final feliz não combina com pobreza ou modéstia. Além disso, é através de uma série de produtos que o mercado se aproveita economicamente dessa cultura, criando pequenas consumistas em busca de seu próprio conto de fadas.
- Uma falsa concepção de amor – o amor é tratado como algo muito irreal, e expectativas criadas quanto aos relacionamentos amorosos são facilmente frustradas, já que o mundo real possui diversas demandas.
- O mundo ideal é um lugar onde não há ninguém que nos diga o que devemos fazer – ideia da música tema do filme da princesa Jasmine.
- Insatisfação com sua própria realidade – ideia da música cantada pela princesa Ariel.
- O príncipe é sempre belo – ainda que por algum feitiço ele tenha se transformado na Fera.
- Problemas se resolvem com um passe de mágica – seja pela varinha de condão ou através de um beijo apaixonado.
Em resumo, talvez o maior prejuízo de uma “Cultura Princesa” seja a construção de uma percepção distorcida da realidade, que irá influenciar pensamentos, sentimentos e comportamentos dessas crianças ao longo de sua vida.
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